PALESTRAS

Como a água que corre ou a(s) história(s) que o rio conta. (Sul de Moçambique, século. XIX) 
 Profª. Drª. Ana Cristina Roque - Universidade de Lisboa


COMO A ÁGUA QUE CORRE, OU A(S) HISTÓRIA(S) QUE O RIO CONTA pretende estimular o debate sobre o papel do rio como elemento-chave das relações homem-natureza. Por um lado, equaciona-se o papel do rio-comunicação, o rio como ponto de inflexão das mudanças sazonais na vida econômica da comunidade: atravessar o rio é o início, ou o fim, de um ciclo que acompanha a mudança de estação e determina ajustes no tempo e no espaço. Por ouro lado, discute-se a forma como eventos específicos afetam o próprio rio, neste caso a delimitação da fronteira sul de Moçambique no século XIX, bem como as consequências desses eventos em termos ambientais e humanos.





Skaftáreldar- Rios, a administração central dinamarquesa, e sobrevivência durante a erupção do Laki na Islândia em 1783

Profª. Drª. Katrin Kleemann (University of Freiburg-Alemanha)

Em junho de 1783, uma fissura vulcânica começou a se formar nas montanhas da Islândia. Ao longo dos oito meses seguintes, essa erupção lançou o maior volume de lava produzido por uma erupção vulcânica no planeta Terra ao longo do último milênio. Internacionalmente, essa erupção é conhecida como erupção Laki. No entanto, na Islândia, ela é conhecida como Slaftáreldar - "o fogo do rio Skaftá". Ao longo da erupção, a lava se dirigiu das montanhas para o litoral, principalmente por meio do estuário formado pelos rios Skaftá e Hversfljót. As águas desses rios glaciais evaporaram e eles fluíram com lava, que consumiu casas e igrejas conforme atravessava planícies. Embora ninguém tenha morrido diretamente em função do fluxo de lava, as consequências da erupção foram, ainda assim, devastadoras. Na Islândia, particularmente no sudeste, a lava, a poeira e os gases vulcânicos envenenaram prados, campos, animais, e, definitivamente, a população humana que vivia da terra. Em um clima volátil, tão próximo ao Ártico, o tempo se tornou mais frio. A população da Islândia sofreu com má nutrição, doenças, fome e morte. Até hoje, o impacto dessa erupção é lembrado como móðuharðindin, o que poderia ser traduzido como "a fome da neblina", sendo também lembrado como a pior catástrofe da história da Islândia. Nesse período, a Islândia era um território subordinado à Dinamarca. Meses se passaram até que as notícias da erupção e devastação dela resultante chegassem à Europa, uma vez que as condições no Atlântico Norte eram díficeis no tocante ao envio de ajuda por meio de navios. A ajuda da administração central dinamarquesa só chegou à Islândia na primavera de 1784. Em 1785, cerca de um quinto da população da Islândia havia falecido em decorrência da fome e de doenças. Nesta comunicação, eu abordo o papel crucial que esses rios e outros tributários desempenharam no desenrolar da história da erupção Laki, mediante a análise de fontes de época, mapas geomorfológicos e literatura secundária.

Skaftáreldar-Rivers, the Danish Central Administration, and Survival during the 1783 Laki Eruption in Iceland

In June 1783, a volcanic fissure began to form in the Icelandic highlands. Over the course of the next eight months, this eruption released the largest volume of lava produced by any volcanic eruption on planet Earth during the last millennium. Internationally, the eruption is known as the Laki eruption. However, within Iceland, it is known as Skaftáreldar-"the fires of the Skaftá river." During the eruption, the lava traveled from the highlands to the coast, mainly via the river bed of the Skaftá and the Hversfljót. The waters of these glacial rivers evaporated and they flowed instead with lava, which consumed houses and churches as it lurched across the plains. While nobody perished as a direct result of the lava flow, the eruption's consequences were nevertheless devastating. Within Iceland, particularly in the southeast, the lava, ash, and volcanic gases poisoned meadows, fields, ponds, animals, and, ultimately, the human population that lived off the land. In a volatile climate, so close to the Arctic Circle, the weather turned cold. The Icelandic population suffered malnutrition, diseases, starvation, and death. To this day, the aftermath of this eruption is remembered as móðuharðindin, the "famine of the mist" and the worst catastrophe in Icelandic history. At the time, Iceland was a Danish dependency. It took several months for news of the eruption and subsequent devastation to reach Europe, by which time the conditions in the North Atlantic were too rough to send aid by ship. The Danish central administration's help only arrived in Iceland in the spring of 1784. By 1785, about one-fifth of the Icelandic population had perished from starvation and disease. In this paper, I address the crucial role these two Icelandic rivers and other tributaries played in the unfolding story of the Laki eruption by analyzing different contemporary sources, geomorphological maps, and secondary literature. 


Entre furos, trovoadas e itaipavas: dinâmicas hidrossociais e comunicação política no Araguaia-Tocantins (século XVIII)
Prof. Dr. José Inaldo Chaves Júnior (Universidade de Brasília) 

Ao longo do século XVIII, sobretudo após o devassamento das Minas de Goiás e frente ao cenário de concorrência interimperial com a Espanha, a bacia do Tocantins-Araguaia foi vista por importantes agentes da Coroa lusa como uma promissora via de comunicação e integração espacial entre os Estados do Brasil e do Maranhão e Grão Pará - as duas principais entidades político-administrativas da América portuguesa. Contudo, por detrás do interesse e das estratégias da administração colonial para controlar o acesso a estes rios e impor-lhes a soberania, os vestígios coletados junto às fontes do Conselho Ultramarino, da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e as narrativas de viajantes e transeuntes nos Setecentos sugerem uma outra história marcada pelo complexo relacionamento entre nativos, colonizadores e ambientes naturais. Nesta comunicação, exploraremos as dinâmicas hidrossociais do Tocantins-Araguaia bem como as representações coloniais da relação com a natureza, vistas quase sempre através do signo do domínio, mas que, nos cotidianos locais e regionais, era clivada por intercâmbios e imposições mútuas. Como veremos, se navegar o Tocantins-Araguaia foi um ato de poder exercido tanto por nativos quanto por colonizadores em seus processos de territorialização, por outro lado, acidentes geográficos (como as itaipavas, cachoeiras e furos), condições meteorológicas e hidrológicas (como tempestades, nevoeiros e correntezas) e as sociedades não-humanas de animais e vegetais (carapanãs, pirarucus e cipós de diferentes espécies) foram muito mais que meros "obstáculos" ou cenários inertes de uma marcha colonizadora incontornável e pré-definida, mas agiram como sujeitos ativos, modificando e sendo modificados nos cursos dessa história fluvial.



Los rios llevan la historia de América. O como entender la historia ambiental latinomaericana desde sus aguas

Prof. Dr. Adrián Gustavo Zarrilli -Universidad Nacional de Quilmes

Se existe uma região no mundo em que sua história é definida especialmente pela relação entre seus habitantes e seu meio ambiente, essa região é a América Latina. Sua história é amplamente definida por sua história ambiental, pelo tipo de relacionamento em que diferentes grupos humanos e comunidades se relacionaram com a natureza ao longo do tempo. E, nesse processo, os rios têm desempenhado um papel fundamental na definição não só da geografia física do subcontinente, mas também de sua constituição material, política e cultural. A América Latina são seus rios. 

De uma perspectiva tradicional, a história apresentou os rios como agentes de união e separação em termos de espaço, mas também de ideologia e identidade nacional. Mas a história ambiental sublinha a noção de espaços como um produto historicamente mutável de forças materiais, bem como políticas, econômicas e culturais. Em vez de serem ambientes de fundo objetivos, estáveis ​​e estáticos, esses espaços são fluidos e borrados, em uma mútua coexistência de humanos com seus rios, em uma troca que complica a tarefa do historiador. As histórias dos rios como tema histórico têm uma longa tradição, e por meio dela entendemos que a história dos rios investiga as várias maneiras como as pessoas viveram ao seu lado, como os perceberam e remodelaram para adaptá-los às suas preferências de vida. Os rios mutáveis ​​e transformados motivaram as pessoas a remodelar suas culturas, economias e políticas para enfrentar novas realidades.

Essas histórias são uma vitrine para entender a natureza entrelaçada de múltiplas concepções espaciais e as escalas da ação humana e dos processos naturais, onde a relação recíproca entre os humanos e seus cursos de água é discutida. Embora criem oportunidades e imponham limites, os rios não determinam os eventuais caminhos a serem seguidos. A água é política, as águas dos rios são políticas e as interações homem-rio são políticas, levando as explorações na história do rio a questões de poder.

A água conecta corpos - humanos e não humanos -, transgride fronteiras geopolíticas, desafia jurisdições, coloca usuários downstream contra usuários upstream e cria competição entre setores econômicos. Desta forma, a água, os rios são protagonistas da história, sendo vitais tanto para os setores mais poderosos quanto para os menos favorecidos e os conflitos em torno de sua aquisição, organização de seu fluxo, transformação e controle representaram a distribuição. de poder, os equilíbrios e as tensões de sociedades específicas ao longo da história.

Los ríos llevan la historia de América. O como entender la historia ambiental latinoamericana desde sus aguas.

Si existe una región en el mundo en la que su historia se define especialmente por la relación entre sus habitantes y su ambiente, esa es Latinoamérica. Su historia está definida en gran medida por su historia ambiental, por el tipo de relación en que los diferentes grupos humanos y comunidades se relacionaron con la naturaleza a lo largo del tiempo. Y en ese proceso los ríos han jugado un rol fundamental para definir no solo la geografía física del subcontinente, sino también su conformación material, política y cultural. Latinoamérica son sus ríos.

Desde una perspectiva tradicional, la historia ha presentado a los ríos como agentes de unión y separación en términos de espacio, pero también de ideología e identidad nacional. Pero la historia ambiental, subraya la noción de espacios como un producto históricamente cambiante de fuerzas materiales, así como políticas, económicas y culturales. En lugar de ser entornos de fondo, objetivos, estables y estáticos, estos espacios son fluidos y borrosos, en una convivencia mutua de los humanos con sus ríos, en un intercambio que complejiza la tarea del historiador. Las historias de los ríos como tema histórico, tienen una larga tradición, y por ella entendemos que la historia de los ríos investiga las diversas formas la gente ha vivido junto a ellos, como los ha percibido y remodelado para adaptarlos a sus preferencias en vida. Los ríos cambiantes y transformados han motivado a la gente a remodelar sus culturas, economías y política para afrontar nuevas realidades.

Estas historias son un escaparate para comprender la naturaleza entrelazada de múltiples concepciones espaciales y las escalas tanto de la acción humana como de los procesos naturales, donde se trate la relación recíproca entre los humanos y sus cursos de agua. Mientras los ríos crean oportunidades e imponen límites, no determinan los eventuales caminos que se toman. El agua es política, las aguas fluviales son políticas, y las interacciones humano-río son políticas, lo que lleva las exploraciones en la historia del río a cuestiones de poder.

El agua vincula cuerpos - humanos y no humanos-, transgrede fronteras geopolíticas, desafía jurisdicciones, enfrenta a los usuarios río abajo con los de río arriba y crea competencia entre sectores económicos. De esta forma, el agua, los ríos, son protagonistas de la historia, siendo vital tanto para los sectores más poderosos como para aquellos menos favorecidos y los conflictos en torno a su adquisición, organización de su flujo, transformación y control han representado la distribución de poder, los equilibrios y tensiones de sociedades especificas a lo largo de la historia. 

Mais informações www.fb.com/grhin
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora